Apesar de muitos acharem que o único fator de entrave na movimentação feminina é o assédio, existem diversos outros motivos que nos diferenciam. Por Aline Prado*
Seja bem-vinda e bem-vindo ao Acervo de Mobilidade e Gênero do Observatório da Mobilidade de Salvador! É aqui que reuniremos todos os materiais encontrados e relacionados ao tema, e será atualizado com novos conteúdos (notícias, artigos científicos, dentre outros) de forma periódica.
Por que falar em gênero na mobilidade?
A problemática de gênero no meio urbano não existe apenas em Salvador, mas em todas as cidades mundiais – claro que com particularidades de cada cultura, mas ainda sim existentes. O padrão de mobilidade é uma consequência do papel que cada um exerce na sociedade, ele muda conforme o gênero, classe social, raça, orientação sexual, dentre outros e são influenciadores diretos na forma como cada um se locomove na cidade, as escolhas do modo de transporte, o valor que pode pagar para ir de um local para o outro, até a distância que consegue percorrer.
Quando falamos de homens e mulheres de forma binária no meio urbano algumas coisas se complicam pois somos mais diversos que isso, e é aí que as diferenças conceituais entre gênero e sexo emergem. Vamos deixar a biologia de lado e aqui abordaremos apenas a matéria social, ou seja, o gênero. A complexidade do tema é enorme e isto também é refletido dentro do meio urbano, a violência pública que a população lgbtqia+ sofre todos os dias tem como consequência sua restrição de escolhas, locais a frequentar e tipos de modos de transporte. Existem poucas ou nenhuma política pública de incentivo ao uso das áreas públicas e proteção a este grupo nas cidades. Em Salvador pessoas sofrem diariamente com esta exclusão social e nos transportes.
Interseccionado a isso existe a mobilidade feminina - que de alguma forma se aproxima - mas não por completo destes obstáculos. As mulheres cis também tem sua mobilidade reduzida, já que o papel social feminino ainda é diferente do masculino, os motivos para sair de casa são diferentes. Apesar de muitos acharem que o único fator de entrave na movimentação feminina é o assédio, existem diversos outros motivos que nos diferenciam: as mulheres buscam mais as crianças nas creches e escolas, circulam mais a pé, usam mais o transporte coletivo e menos a motocicleta, tem menos dinheiro disponível para o uso em locomoção, em Salvador ainda temos o agravante da topografia acidentada que faz com que a microacessibilidade seja ainda mais fatigante. É por estes e outros motivos que se faz necessário acompanhar tudo que se expõe da mobilidade feminina em Salvador e em cidades similares a ela.
A mobilidade feminina não está sozinha, ela está integrada no ambiente da mobilidade inclusiva. Basta olhar para uma mulher na rua: muitas estão carregando sacolas, outras estão com crianças, outras estão grávidas, outras são mulheres LGBT, outras são idosas, outras só andam de carro por medo da violência, outras nunca saíram do próprio bairro. Uma cidade que está pronta para acolher as mulheres, sejam elas cis ou trans, está muito avançada num projeto de cidade inclusiva.
Para compor este acervo foram inseridos textos científicos, reportagens, lives, encontros, congressos, pesquisas, além dos textos de opinião para enriquecer o debate. O tema da mobilidade feminina, apesar de não ser novo, é ainda pouco explorado, principalmente em Salvador. Por isso, para que exista um acervo mais vasto sobre o tema, também foram incluídos alguns materiais em outras línguas como espanhol ou inglês, mas sempre com argumentos que estão de acordo com a realidade da nossa cidade.
Sabemos que o padrão de mobilidade muda conforme se dão as mudanças sociais, portanto o acervo servirá como um importante histórico destas mudanças. Desta forma ele se propõe ser colaborativo. Se você tem algum material que queira compartilhar ou texto que queira escrever, entre em contato!
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