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Agonia do Ferry-boat: CORREIO avalia o estado das embarcações

Duas embarcações podem retornar na semana que vem, enquanto duas estão sem previsão para a conclusão dos reparos. Por Thais Borges


Publicado no Correio


É a ordem natural da vida: nascer, crescer, brilhar, decair, envelhecer e morrer. Atire a primeira pedra o jovem que nunca teve medo da velhice, quando viu as marcas do tempo dominando a aparência de uma avó. Esse sentimento de desespero provavelmente é o que toma conta de Ivete Sangalo quando tem um vislumbre de seu futuro: Gal Costa. Antes que alguém pense que é sobre as duas divas baianas, é bom ter calma. Quem precisa se preocupar é o ferry Ivete Sangalo, o mais novo da frota de sete embarcações do sistema.

Parado no Terminal de São Joaquim, o Ivete tem retorno previsto para semana que vem (Foto: Marina Silva)

Ontem, um dia depois de todo o sistema de travessia ter parado, por não ter nenhuma embarcação disponível, o CORREIO percorreu de manhã a Baía de Todos os Santos em busca dos ferries parados. Dois deles (Agenor Gordilho e Juracy Magalhães) foram encontrados na Base Naval de Aratu, enquanto o Maria Bethânia e o Ivete Sangalo nos terminais de Bom Despacho e São Joaquim, respectivamente. O Pinheiro foi visto no meio da baía, por volta de meio-dia. Enquanto isso, só o Rio Paraguaçu e o Anna Nery faziam a travessia — pelo menos até o fechamento da edição, às 22h.

Apesar de ser a mais jovem, parada em São Joaquim, a embarcação Ivete Sangalo já não era a mesma de agosto de 2008, quando foi inaugurada. Embora alguns funcionários trabalhassem para mantê-lo em ordem, o ferry tinha aparência já desgastada. Segundo Eduardo Pessôa, o problema foi uma bomba de lubrificação que queimou. “Como ele está na garantia, a bomba foi trocada”. O diretor geral afirmou que pretende colocar o ferry para navegar já na semana que vem.

Já o Maria Bethânia deve ser liberado segunda ou terça-feira. “Trocamos dois motores e o eixo”, diz. Ele está sendo mantido no terminal de Bom Despacho porque, ainda segundo Pessôa, o preço do aluguel da Base Naval de Aratu é muito alto. O diretor da Agerba, porém, não soube informar o valor para manter a embarcação no local. Testes

Com relação ao Pinheiro, avistado pela equipe do CORREIO na baía por volta do meio-dia de ontem, o diretor da Agerba informou que ele também está em manutenção na Base de Aratu e estava em um teste de mar, realizado pelo próprio órgão. “Nós mesmos fizemos, para cumprir exigências necessárias para o barco navegar”, disse. O Pinheiro teria feito, segundo Pessôa, um percurso de 40 minutos, passando pelos terminais do sistema. “Ele deu voltas na baía, fez avante, ré, direita e esquerda, freadas bruscas, reversões... Tudo para ficar pronto para a avaliação da classificadora amanhã (hoje)”. Segundo a Capitania dos Portos, o Pinheiro está sendo inspecionado pela sociedade classificadora Registro Brasileiro de Navios e Aeronaves (RBNA). Ser aprovado nessa avaliação é pré-requisito para que o ferry possa voltar a funcionar. Se não for aprovado, o Pinheiro continuará na Base Naval, na companhia pouco animada do Agenor Gordilho e do Juracy Magalhães.

Parecendo esquecidas em meio a outros barcos enferrujados, as duas embarcações são retrato de degradação. Agenor, que está fora da travessia desde a época da TWB, está em condições um pouco melhores. Para disfarçar a idade, o ferry está usando uma maquiagem. Ainda cercado por andaimes, acabou de ser pintado. Falta a motorização e esperar as orientações da classificadora. Juracy Magalhães não tem tido tanta sorte. Tomado por ferrugem, ainda não pôde sequer ser pintado, por problemas de caldeiraria. Quanto à previsão para voltarem, Eduardo Pessôa prefere nem se arriscar. Cemitério

Ainda que voltem a fazer a travessia, os dois ferries logo estarão com dias contados. Após anos de trabalho, chegará o momento do fim, da mesma forma que o Mont Serrat espera, no cemitério dos ferries — a Marina de Aratu.

Desativado, o ferry é uma sucata, manchado, enferrujado e sem peças. Eduardo Pessôa acredita que ele deve ter o mesmo destino do Gal Costa, leiloado em novembro de 2010. Desse último, não resta praticamente nada, senão um casco abandonado e a lembrança do que já foi um dia.

O ferry Mont Serrat, já desativado, jaz em um sucatão de ferries na Marina de Aratu (Foto: Marina Silva)

E como a morte é apenas uma fase do ciclo da vida, logo deve haver um novo nascimento. Segundo Eduardo Pessôa, o primeiro edital para a compra de três novas embarcações deve ser publicado na próxima semana. Já o governador Jacques Wagner declarou na última quarta-feira que o estado está disposto a gastar R$ 34 milhões na compra de dois ferries vindos da Europa.


MP pede a Agerba que apresente cronograma de retorno dos ferries

O Ministério Público do Estado (MP-BA) solicitou à Agerba que entregue, até 4 de fevereiro, um cronograma definitivo para o retorno dos ferries e das medidas que serão adotadas no sistema.


O MP pediu que o relatório seja apresentado em uma audiência pública com a presença da Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra) na sede do MP, em Nazaré. De acordo com a promotora Rita Tourinho, esse encontro será para prestar contas à população. “Precisamos disso, porque a preocupação das pessoas que utilizam o serviço é quando tudo volta a funcionar normalmente”, justificou.


Segundo a promotora, o MP abriu inquérito para apurar os problemas no sistema e vai entrar com “medidas judiciais” contra os gestores da TWB, concessionária que administrava o funcionamento dos ferries até setembro, quando a Agerba interveio no sistema. “Para nós, está provado que a empresa atuou no sentido de causar um dano. Temos detectado coisas absurdas que comprovam que houve um sucateamento do sistema que levou ao estado em que está hoje”, afirmou. Os antigos gestores da Agerba devem ser processados. “Não podemos excluí-los, porque foram totalmente negligentes”, completou.


Para Rita Tourinho, a falta de ação de antigos responsáveis pelo órgão se comprova porque problemas encontrados em 2004, na intervenção do Consórcio Marítimo da Bahia (Comab), primeiro administrador do sistema após a privatização, foram encontrados novamente nessa última intervenção. “Foram encontrados paralelepípedos no casco de um dos ferries para tapar buracos”. Ela defendeu o atual diretor-geral da Agerba, Eduardo Pessôa. “Ele tem sido o único a tomar atitudes para solucionar uma questão que vem se arrastando há anos”, opinou. Eduardo Pessôa assumiu o cargo em fevereiro de 2011.

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