A readequação de velocidade para a Av. Suburbana já deveria ter sido executada no recente processo de requalificação da via. Por ObMob Salvador
No dia 11 de novembro, recebemos a trágica notícia de mais uma morte na Av. Afrânio Peixoto, mais conhecida como Av. Suburbana. A vítima da vez, o ciclista Genivaldo Norberto Cunha dos Santos, de 41 anos, foi atropelado por um motorista de ônibus da Integra - empresa Plataforma.
É inadmissível que, em pleno ano de 2024, o trânsito de Salvador ainda faça vítimas fatais por conta de situações que poderiam ser evitadas. Pior ainda é a naturalidade com que estes casos são tratados seja pela grande mídia, seja pela sociedade em geral. Vamos repetir quantas vezes forem necessárias: não foi acidente!
É por isso que usamos esse espaço para cobrar a gestão municipal da cidade. A Prefeitura de Salvador precisa adotar medidas efetivas que promovam a segurança viária e protejam a população do Subúrbio Ferroviário e de Salvador.
Até abril deste ano, a Av. Suburbana já ocupava o 2º lugar com maior registro de ocorrências de trânsito na cidade. Por conta do histórico de sinistros, Décio Martins, superintendente da Transalvador, informou em entrevista ao Jornal Correio que a avenida passaria por um processo de requalificação. A conclusão desta intervenção aconteceu em 29 de junho, com instalação de faixas elevadas, ciclovia com novo nível, recapeamento asfáltico, pinturas renovadas, semáforos inteligentes e paisagismo pontual. No entanto, tais medidas se mostraram insuficientes para garantir um espaço urbano seguro e acolhedor para ciclistas e pedestres.
Vale lembrar que o Prefeito Bruno Reis afirmou que as medidas adotadas na Avenida Suburbana trariam melhorias. Quais melhorias? Para quem? Registramos aqui nossos questionamentos:
Os pontos de travessia tiveram um melhor tratamento viário? Estudos sobre segurança viária comprovam que estes são os locais com maior número de colisões e atropelamentos. É imprescindível avaliar se houve melhoria nos tempos semafóricos para travessia de pedestres.
Houve garantia de acessibilidade adequada (rampas e linhas guias) para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida?
Houve alargamento das calçadas para melhoria no trânsito de pedestres e de pessoas com deficiência?
Foi feito algum estreitamento das faixas de rolamento como estratégia de readequação de velocidade? Algum procedimento de ampliação das esquinas foi executado para melhorar a angulação das esquinas nos cruzamentos e privilegiar os pedestres em detrimento dos veículos motorizados?
A Secretaria Municipal de Mobilidade (SEMOB) sabe que o maior fator de risco no trânsito brasileiro são as velocidades excessivas. A readequação de velocidade para a Av. Suburbana já deveria ter sido executada no recente processo de requalificação da via.
Alguns pontos precisam ser considerados nesse processo:
redesenho viário, com a utilização de faixas elevadas ou speed tables, rotatórias, entre outros elementos);
fiscalização e monitoramento da via;
sinalização vertical e horizontal adequada nos cruzamentos, intersecções e ao longo da via.
Não é aceitável que uma avenida que comporta tantos deslocamentos ativos de pedestres e ciclistas PERMANEÇA com a inadequada e mortal velocidade máxima de 60 km/h.
Nós temos o dever de ressaltar que a infraestrutura cicloviária existente é deficitária. Isso já foi apontado recentemente na auditoria cicloviária realizada e publicada em 2023 pelo Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador (ObMobSSA). Na audiência pública de diagnóstico para o plano cicloviário promovida pela SEMOB entre março e abril de 2023, também apontamos o perigo da infraestrutura da AV. Suburbana. Destacamos que seu desenho estreito deixa o ciclista bem próximo à pista, e a sua implantação no canteiro central faz com que os/as ciclistas cruzem pelo menos duas vezes a rua para entrar e sair da ciclovia. Sinalizamos ainda outros parâmetros que também não foram contemplados no processo de requalificação da avenida.
É importante reforçar que 1/3 da população de Salvador mora no Subúrbio Ferroviário. Essas pessoas, em sua maioria negras e de baixa renda, utilizam diariamente a Av. Suburbana para seus deslocamentos diários, a pé, de bicicleta, de ônibus, carro ou motocicleta.
Outro aspecto que merece ser questionado é a forma como a Prefeitura trata os crimes de trânsito cometidos por motoristas profissionais sob sua supervisão. O trânsito é um ambiente complexo por conta de diferentes fatores como congestionamentos, violência, poluição sonora e atmosférica. Além disso, a precarização, a jornada de trabalho excessiva dos motoristas do transporte coletivo e a péssima qualidade da frota também compõem esse cenário de guerra que é o trânsito das metrópoles brasileiras. Por essa razão, as empresas precisam ser responsabilizadas por não oferecer melhores condições de trabalho aos seus funcionários, que diariamente precisam enfrentar esse quadro caótico.
O dia 17 de novembro é o Dia Mundial em Memória às Vítimas do Trânsito, e, a cada ano, essa data demonstra a gravidade da situação do trânsito, não apenas em Salvador, mas em praticamente todas as grandes cidades do Brasil. Assim, solicitamos que o Ministério Público da Bahia exija da Prefeitura Municipal de Salvador a adoção de providências efetivas para salvar as vidas das pessoas que se deslocam diariamente nessa região da cidade.
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