Patinetes elétricos em Salvador: crescimento, acidentes e regulamentação
- ObMob Salvador
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Operação de patinetes elétricos começou em janeiro e já registrou mais de 66,9 mil viagens em Salvador. Por Ananda Costa
Publicado no AratuOn

Em janeiro deste ano, a Prefeitura de Salvador iniciou a operação de patinetes elétricos na cidade em parceria com a empresa JET Brasil, responsável pela gestão e disponibilização dos equipamentos. O projeto surgiu como uma alternativa para ampliar as opções de mobilidade urbana, oferecendo um meio de transporte prático e sustentável para pequenos deslocamentos.
Durante o período de adaptação, que durou 90 dias, a adesão do público surpreendeu. Segundo dados da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), foram registradas, aproximadamente, 66,9 mil viagens, com 29.800 usuários cadastrados na plataforma da operadora. No total, os patinetes percorreram cerca de 247 mil quilômetros pelas ruas da cidade, somando mais de 1,94 milhão de minutos em tempo de deslocamento.
No entanto, apesar da popularização do serviço, o período de testes também revelou uma preocupação crescente: o aumento de acidentes envolvendo patinetes elétricos. O que deveria ser uma solução de mobilidade e lazer, se tornou, em muitos casos, motivo de alerta para usuários, pedestres e motoristas.
Segundo Guillermo Petzhold, assessor especial da Semob, nos três primeiros meses de operação, 600 contas de usuários foram bloqueadas pela empresa devido ao uso inadequado dos equipamentos. Entre as infrações mais comuns estavam o transporte de duas pessoas no mesmo patinete, a condução imprudente em áreas de grande circulação de pedestres e a realização de manobras perigosas.
"Usualmente, é verificado uma imperícia do usuário no uso do equipamento ou uma infração ao seu correto uso (viagens em dupla ou por menores de idade)", informou.
Entre janeiro e março deste ano, sete sinistros foram registrados pela Semob, sendo dois médios, três leves e dois não classificados. Uma delas envolveu Thaís Lima, de 29 anos, que quase foi atropelada por um patinete na orla de Piatã, sofrendo lesões no braço. Outro caso ocorreu na Barra, próximo ao Morro do Cristo.
Quais são as regras para o uso dos patinetes elétricos em Salvador?

Em entrevista ao Aratu On, o jornalista Mário Pinho, membro do Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador, explicou que a regulação atual ainda é frágil e demanda maior atuação da Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador).
“A Resolução nº 996/2023 do Contran estabelece normas para esses equipamentos e determina que cabe ao município regulamentar e fiscalizar sua utilização. Em Salvador, a Transalvador é responsável por criar regras que garantam a segurança dos usuários”, afirmou.
Apesar da pouca divulgação, a Prefeitura, por meio da Semob, definiu algumas regras básicas:
A velocidade máxima é de 20 km/h em vias dedicadas e 6 km/h em calçadas;
É proibido o transporte de mais de uma pessoa por patinete;
É obrigatório respeitar a sinalização de trânsito e dar preferência aos pedestres;
Somente maiores de 18 anos podem usar o equipamento;
O usuário não pode estar sob efeito de bebida alcóolica ou outros entorpecentes.
Para o bom uso do equipamento e com o objetivo de orientar a população sobre o uso seguro e consciente dos patinetes elétricos, aulas gratuitas de direção foram promovidas em Salvador, pela empresa JET.
"Desde o início da autorização provisória para exploração do serviço de patinetes compartilhados, a segurança viária sempre esteve no topo das prioridades da Semob. Um dos pré-requisitos para o início das atividades foi de que a empresa realizasse, ao menos uma vez por semana, uma escola gratuita de treinamento para o correto uso do equipamento. Desde o início da operação até aqui, já foram realizadas mais de 30 escolas, capacitando 2 mil pessoas", explica Guillermo Petzhold.
Projeto de Lei em tramitação

Diante do crescimento no uso de patinetes, bicicletas elétricas e ciclomotores, o vereador Marcelo Guimarães Neto (União) apresentou um projeto de lei para regulamentar a circulação desses veículos em Salvador.
A proposta estabelece:
Limite de 20 km/h em áreas urbanas movimentadas;
Proibição de circulação em calçadas, salvo autorização;
Exigência de sinalização noturna, velocímetro e limitador de velocidade;
Manutenção adequada dos equipamentos;
Regras para evitar o abandono irregular de patinetes e bicicletas.
“Estamos seguindo as diretrizes do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), mas também adaptando a legislação às necessidades específicas de Salvador. Com essa regulamentação, poderemos melhorar a convivência entre os diferentes modais de transporte e fortalecer as políticas públicas de mobilidade sustentável”, reforça o vereador.
Falta de infraestrutura urbana

Mario Pinho chama a atenção para um problema estrutural que afeta diretamente a mobilidade urbana em Salvador: a falta de infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas.
Um dos principais apontamentos de Pinho tem como base a Auditoria Cicloviária realizada em 2023 pelo Observatório da Mobilidade, que revelou um déficit significativo na malha cicloviária da cidade. O estudo não só mostrou que Salvador possui poucos quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, mas também que muitas dessas estruturas não seguem critérios técnicos adequados, como largura, qualidade do pavimento e integração entre os trechos.
Essa priorização deve ser acompanhada de políticas que controlem a velocidade dos veículos e de uma fiscalização mais rígida e eficiente. Segundo ele, sem essas medidas, os acidentes de trânsito envolvendo pedestres, bicicletas e patinetes deixam de ser meras fatalidades e passam a ser um resultado previsível da má gestão urbana. "Sem essa priorização, os sinistros são previsíveis", afirma o jornalista.
Guillermo Petzhold compartilha do mesmo pensamento, e reforça que a área de operação dos patinetes foi pautada na presença de infraestrutura cicloviária nas diferentes regiões da cidade.
"O plano cicloviário, lançado em 2024, prevê a expansão da atual infraestrutura cicloviária de 300 km para 700 km até 2034. Tal ampliação também consta como meta do plano de governo. Com a ampliação do uso do patinete e monitoramento dos dados de viagens, pretende-se pautar a priorização da ampliação da infraestrutura cicloviária com base nos dados observados", reforça o assessor especial da Semob.
Patinetes como meio de transporte ou lazer?
Segundo Mário Pinho, em Salvador, os patinetes têm sido usados mais para lazer do que como transporte diário, devido à restrição geográfica — atualmente limitada à orla e áreas turísticas.
“Seria fundamental expandir seu raio de atuação, integrando-o a estações de metrô e terminais de ônibus, desde que com infraestrutura segura”, sugeriu.
Ele também destacou que outras cidades, como São Paulo, enfrentaram problemas semelhantes devido à falta de regulação eficiente. Já em países europeus, tecnologias como o geofencing (que limita automaticamente a velocidade em áreas de grande circulação de pedestres) têm sido adotadas para aumentar a segurança.
“Enquanto não houver fiscalização efetiva e infraestrutura adequada, os riscos continuarão”, concluiu
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