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Via Náutica começa a operar em abril

Publicado no jornal A Tarde


Por Adilson Fonsênca

O aposentado Valdir da Silva Sales, 80 anos, costumava fazer a travessia de lancha entre os bairros de Plataforma e Ribeira até 1986, último ano em que o serviço funcionou. A sua filha, Maria Cristina Sales Costa, 40 anos, que estudava em Itapagipe, também utilizava o transporte marítimo de Salvador para ir diariamente de casa até a escola.


Agora, o neto, Hélio Sales Costa, 22 anos, espera a vez de viajar de lancha, acreditando que a prefeitura cumpra a promessa de reativar o sistema em abril deste ano.


A promessa foi feita em outubro do ano passado pelo prefeito João Henrique, em visita ao bairro, e reafirmada ontem pelo subsecretário de Transportes e Infra-Estrutura de Salvador, Adriano Peixoto. Ele disse que as obras deverão começar ainda em janeiro deste ano, com previsão de conclusão em abril.


É o primeiro passo para a entrada em funcionamento da Via Náutica, que vai interligar todos os bairros costeiros do subúrbio ferroviário à área central da cidade, através do transporte marítimo de passageiros.


A via terá pontos de parada para embarque e desembarque de passageiros ao longo do trajeto entre a Ilha de Maré e o Terminal da França. O projeto, cuja previsão de conclusão é de três anos, abrangerá a Ilha de Maré, São Tomé de Paripe, Plataforma, Ribeira, Ponta do Humaitá, Calçada e Comércio, deixando de fora o Porto da Barra e o Solar do Unhão, que constavam no projeto anterior, que tinha feições mais turísticas, feito pelo governo do Estado.


EXPECTATIVA –


Na primeira etapa da Via Náutica, a prefeitura estima que sejam transportadas diariamente três mil pessoas pelo sistema de travessia entre Ribeira e Plataforma. Ainda este mês, deverá ser iniciada a recuperação da estação marítima e implantado o píer de atracação das lanchas.


Não há, ainda, uma definição sobre o tipo de embarcação que será utilizado na travessia, contudo a prefeitura garante que até abril será aberta concorrência pública para este fim, assim como a definição do valor da tarifa e freqüência de horários.


Até 1986, a travessia entre Plataforma, no subúrbio ferroviário, e a Ribeira, na Península de Itapagipe, era feita em duas lanchas – Itacaranha e Praia Grande –, que foram desativadas após a privatização da antiga Companhia de Navegação Bahiana (CNB), que explorava o sistema. A viagem durava em média dez minutos.


As lanchas transportavam não apenas os moradores de Plataforma, mas os dos bairros de Itacaranha, Escada, Periperi e Paripe, que usavam o trem e faziam o transbordo para a Ribeira, pagando uma única tarifa.


O valor total da obra está orçado em R$ 3,7 milhões e deverá beneficiar não apenas o subúrbio ferroviário e a Península de Itapagipe, mas também a Ilha de Maré, São Tomé de Paripe e as regiões da Calçada e do Comércio, que terão estações marítimas interligadas ao sistema de transporte por ônibus.


Para as obras em Plataforma, estão previstos recursos da ordem de R$ 500 mil, o mesmo valor para a reativação da estação marítima da Ribeira, dinheiro que, conforme disse Adriano Peixoto, já está assegurado e será aplicado ainda este ano.


Travessia sai mais barato para passageiros


Atualmente, quem se desloca de qualquer ponto do subúrbio ferroviário para a Península de Itapagipe, mais precisamente para a Ribeira, tem que gastar R$ 2,20 (passagem de trem e de ônibus). A viagem dura pelo menos uma hora para chegar ao destino final.


Para quem não utiliza o trem, existem linhas específicas de ônibus, pela Avenida Suburbana, que saem dos bairros de Paripe e Periperi com destino à Ribeira. O percurso dura entre 45 minutos e uma hora e custa R$ 1,70.


A maioria dos usuários do transporte marítimo por lancha era formada por estudantes que residiam no subúrbio e estudavam na Ribeira. “Antes, era mais confortável e rápido, além de ser menos estressante que a viagem por ônibus”, disse Elias Mascarenhas, 49 anos, funcionário do Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultura do Estado).


Na juventude, ele utilizava as lanchas para ir de casa até o Colégio João Florêncio Gomes, na Ribeira.


Para quem reside próximo à linha do trem, como o metalúrgico Hélio Alves Costa Filho, 43 anos, que trabalha na Ribeira e mora em Plataforma, não há lógica em gastar dinheiro e tempo com transporte rodoviário até o serviço, quando se poderia fazer isso em apenas dez minutos, gastando três vezes menos.


“Imagine então para quem vai de Paripe ao Comércio, viajando pelo mar, com uma vista da Baía de Todos os Santos, sem engarrafamentos e confusões do trânsito”, disse o pescador Antônio Torres dos Santos, 38 anos, antigo usuário das lanchas.


Dois bairros separados pela enseada


Geograficamente, os bairros da Ribeira e Plataforma estão localizados um em frente ao outro, separados pela Enseada dos Tainheiros. Desde que os atracadouros antigos foram danificados, seus moradores enfrentam dificuldades para fazer o trajeto de um ponto a outro por terra, tendo que percorrer um longo desvio pela Avenida Suburbana e toda a área da Calçada.


Ribeira –


As facilidades portuárias da Ribeira levaram o lugar a ser ocupado inicialmente por aldeias de pescadores, que contavam com a tranqüilidade das águas para o abrigo de suas embarcações. A aclimatação do gado vindo da Europa no século XVI e a instalação de fábricas de tecidos no século XIX também ocuparam essa área da Península de Itapagipe. De primitiva aldeia de pescadores, a região transformou-se num disputado lugar de veraneio no início de século XX.


Plataforma –


Primeiro bairro do subúrbio ferroviário de Salvador, Plataforma era, no século XVIII, propriedade rural da família Martins Catharino, que instalou no local seu mais valioso patrimônio: a fábrica têxtil União Fabril.


Além da mansão dos Catharino, o que havia de residências naquele lugar se resumia à Vila Operária, um conjunto de casas modestas pertencentes aos donos da terra, onde moravam os próprios trabalhadores da fábrica, a maioria imigrantes.

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